O Governo anunciou ontem as novas medidas de apoio ao rendimento disponível para as famílias:
– Para os trabalhadores, um pagamento extraordinário, no mês de outubro, de 125 euros a cada cidadão com rendimento até € 2700 mensais. É ainda atribuído um pagamento extraordinário de €50 por cada descendente, criança ou jovem, que tenha a cargo.
Com estes valores o Governo parece ignorar a realidade económica atual.
Considerando o universo dos trabalhadores públicos, se no conjunto do ano, a taxa de inflação subir, em média, para 6,8% em 2022 (valor previsto pela CE no passado mês de julho) cerca de 630 mil funcionários públicos vão perder cerca de 6% do poder de compra só este ano. Não serão certamente os € 125 agora atribuídos que permitirão a retoma do poder de compra.
– Para os pensionistas/aposentados, a atribuição, no mês de outubro, de um suplemento extraordinário equivalente a meio mês de pensão, sujeito a descontos.
Para 2023, o Governo afastou a regra de atualização automática das pensões criando novas percentagens de atualização:
a) 4,43% para as pensões até 886 euros;
b) 4,07% para as pensões entre 886 e 2659 euros;
c) 3,53% para as restantes pensões sujeitas a atualização.
Para além de não se garantir a manutenção do poder de compra, o Governo afasta regras que se pretendem estáveis e duradouras. A sua alteração prejudica ainda os pensionistas/aposentados nos anos subsequentes. Há uma regra que se altera sempre que se quer!
Ora, o combate à inflação não deve fazer-se com “vouchers”, pagamentos e suplementos extraordinários.
Deve fazer-se com salários e pensões dignos, com contas rigorosas na distribuição de fundos públicos, com combate às rendas imobiliárias especulativas visando o lucro rápido com o turismo e tributando os lucros excessivos de quem lucra à custa da inflação.
O pacote de medidas apresentado ontem pelo Governo, num país onde as remunerações do trabalho e as pensões são de um modo geral baixas, fica-se apenas pelas boas intenções.